sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Orgasmo literário : O prazer nas mãos de quem segura a caneta


Falar de/sobre sexo ainda é muito complicado mesmo no  - ou após – século das luzes; firmado e amadurecido o antropocentrismo , ainda carregamos alguns conceitos – e pré- conceitos – ligados ao pensamento medieval. Ao contrário dos iluministas (é de suma importância esclarecer ao leitor) não intenciono o juízo de valor sobre o tempo entre os séculos V e XV; trata-se apenas, de uma analogia, onde quero mostrar o quanto o Brasil é atrasado em várias de suas concepções. 


Ao discutir com uma colega de trabalho sobre sexo, um dos ouvintes, mas não participante, resolveu contribuir com seu olhar de perturbação reprovadora , como se falássemos de algo proibido ou incitássemos a violência , ou ainda estivéssemos influenciando  adolescentes  a prática  irresponsável do ato. Somos pecadores condenadíssimos ao inferno, fornicação ( sexo antes do casamento) é crime inafiançável ao Reino dos céus ; falar de sexo então...

 Deixando as filosofias religiosas de lado, ou melhor, no século XV, é possível constatar que , seja onde for, no barzinho ou no trabalho , em casa ou no motel, na tevê ou na internet, tudo termina em SEXO. Refiro-me a sexo verbal. É a “gostosa” da fulana da recepção; é a irmãzinha fogosa da igreja, etc.; pode ter certeza, num barzinho qualquer, há um homem junto com outros, falando da coisa mais gostosa que há na vida: mulheres! 


Todo este emaranhado de sexo oral, (perdão, verbal) alcança a toda esfera da raça humana, incluindo a arte; seja na escultura, pintura, ou na literatura, está lá o erotismo, o símbolo; uma questão que travam  o avanço da percepção e estudo a cerca do erotismo , está no conservadorismo hipócrita das pessoas que perpetuam preconceitos das quais nem as origens conhecem.
Primeiro de tudo pornografia é diferente de pornofonia e erotismo. Quer saber a diferença entre pornofonia e pornografia? Vá a pesquisa leitor, informe-se – rompa este senso comum!
Erotismo é uma palavra oriunda da Grécia, derivada de Eros – é isso aí: não é o nome da camisinha - que era o Deus do amor. Os romanos o chamam de cúpido – e nós, apostólicos, achamos melhor o Deus da língua latina; o sentido erótico – de Eros que não  é a marca de camisinha – de sexo, não está no abuso do poder sobre o outro ou apenas na satisfação prazerosa de um em detrimento da outra. Não é por  exemplo o “toma danada / você pede/ eu dou lapada na rachada” , ou “é o seu vizinho que quer comer meu  (...)” não se trata deste aspecto que , em muitos casos, chega a promover o estupro .

Trata-se de uma relação sexual entre dois seres que se entregam de forma responsável e, entre si, trocam prazeres, olhares, abraços e beijos, coisas que vão muito além do filosófico encontro entre vagina e pênis...

É o que nos revela, por exemplo, ou eu-poético feminino de “explode coração” do maravilhoso Gonzaguinha:


Nascendo, rompendo, rasgando, tomando, meu corpo e então eu
Chorando, sofrendo, gostando, adorando, gritando
Feito louca, alucinada e criança
Sentindo o meu amor se derramando
Não dá mais pra segurar, explode coração...



Se você analisar carinhosamente a música, notará um profundo erotismo, com inicio, meio e fim, incluindo, neste contexto, a desvirginização do eu lírico...

É o orgasmo nas mãos da poética...



 Por Júlio César Maia
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     *Todos os direitos reservados ( texto concedido e autorizado pelo mesmo)

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