Falar de/sobre sexo ainda é muito complicado mesmo no - ou após – século das luzes; firmado e
amadurecido o antropocentrismo , ainda carregamos alguns conceitos – e pré-
conceitos – ligados ao pensamento medieval. Ao contrário dos iluministas (é de
suma importância esclarecer ao leitor) não intenciono o juízo de valor sobre o
tempo entre os séculos V e XV; trata-se apenas, de uma analogia, onde quero
mostrar o quanto o Brasil é atrasado em várias de suas concepções.
Ao discutir com uma colega de trabalho sobre sexo, um dos ouvintes,
mas não participante, resolveu contribuir com seu olhar de perturbação reprovadora
, como se falássemos de algo proibido ou incitássemos a violência , ou ainda estivéssemos
influenciando adolescentes a prática
irresponsável do ato. Somos pecadores condenadíssimos ao inferno,
fornicação ( sexo antes do casamento) é crime inafiançável ao Reino dos céus ;
falar de sexo então...
Deixando as filosofias religiosas de lado, ou melhor, no
século XV, é possível constatar que , seja onde for, no barzinho ou no trabalho
, em casa ou no motel, na tevê ou na internet, tudo termina em SEXO. Refiro-me
a sexo verbal. É a “gostosa” da fulana da recepção; é a irmãzinha fogosa da
igreja, etc.; pode ter certeza, num barzinho qualquer, há um homem junto com
outros, falando da coisa mais gostosa que há na vida: mulheres!
Todo este emaranhado de sexo oral, (perdão, verbal) alcança
a toda esfera da raça humana, incluindo a arte; seja na escultura, pintura, ou
na literatura, está lá o erotismo, o símbolo; uma questão que travam o avanço da percepção e estudo a cerca do erotismo
, está no conservadorismo hipócrita das pessoas que perpetuam preconceitos das
quais nem as origens conhecem.
Primeiro de tudo pornografia é diferente de pornofonia e erotismo.
Quer saber a diferença entre pornofonia e pornografia? Vá a pesquisa leitor,
informe-se – rompa este senso comum!
Erotismo é uma palavra oriunda da Grécia, derivada de Eros –
é isso aí: não é o nome da camisinha - que era o Deus do amor. Os romanos o
chamam de cúpido – e nós, apostólicos, achamos melhor o Deus da língua latina;
o sentido erótico – de Eros que não é a
marca de camisinha – de sexo, não está no abuso do poder sobre o outro ou
apenas na satisfação prazerosa de um em detrimento da outra. Não é por exemplo o “toma danada / você pede/ eu dou
lapada na rachada” , ou “é o seu vizinho que quer comer meu (...)” não se trata deste aspecto que , em
muitos casos, chega a promover o estupro .
Trata-se de uma relação sexual entre dois seres que se
entregam de forma responsável e, entre si, trocam prazeres, olhares, abraços e
beijos, coisas que vão muito além do filosófico encontro entre vagina e pênis...
É o que nos revela, por exemplo, ou eu-poético feminino de “explode
coração” do maravilhoso Gonzaguinha:
Nascendo, rompendo, rasgando, tomando, meu corpo e então eu
Chorando, sofrendo, gostando, adorando, gritando
Feito louca, alucinada e criança
Sentindo o meu amor se derramando
Não dá mais pra segurar, explode coração...
Se você analisar carinhosamente a música, notará um profundo
erotismo, com inicio, meio e fim, incluindo, neste contexto, a desvirginização do
eu lírico...
É o orgasmo nas mãos da poética...
Por Júlio César Maia
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